17 de jun. de 2021

17/06/2021

 


Aquele rio dócil e calmo de palavras que escorriam facilmente com delicadeza e até inocência, ainda que nunca tenham sido bons versos, ou sequer versos, não deixavam de ser uma luz morna penetrando pelas frestas abertas em um inverno que nunca respeitou os calendários para chegar. 

As tantas páginas eram como retratos de momentos e sentimentos de trégua e quase esperança. E mesmo que tola, a fé no amor germinava flores abundantes pelas paisagens em que o olhar vagava. 

Ainda faz bastante frio... Só que não aquele das manhãs que custavam a nascer até que aos poucos o sol fosse dando vida às ruas, calçadas e jardins. É um frio com mais silêncio, com mais sombras, com mais t(r)emores. 

E eu continuo para além de uma década depois enfileirando letras endereçadas a um vazio que se aprofunda dia após dia. 

Mas há de belo esse céu de um imenso azul e a brisa do início da tarde tirando os salgueiros do pátio para dançar lentamente, mesmo que nada disso agora seja o bastante...

E por entre o passar gotejante das horas e as notícias amargas que tanto têm tardado a cessar, o rio continua a fluir, talvez mais caudaloso e sem tanta beleza, mas ainda repleto de vida.