22 de jun. de 2021

Ruas de doingo - prosa poética em quarentena

 


Prosa poética em quarentena
Eu não pretendia escrever sobre os tempos de pandemia. De que serviriam mais palavras diante de tudo o que vivemos e sentimos? Elas não me pareciam úteis, necessárias e até bem-vindas. Ainda que em algum momento eu tenha acreditado ser capaz de extrair alguma poesia dos dias, o que haveria de Belo em tempos tão “tremendamente esquisitos”, como disse a poetisa?
Contudo, a vida continua fluindo por entre as pedras de angústia e de temor que foram despejadas em quase todos os corações, e as palavras, ainda que desprovidas de muita grandeza e poder, continuam com seu anseio humilde de acalentar o espírito alquebrado.
Então, quando dei por mim, percebi que eu não estava escrevendo sobre a amargura de uma fase repleta de nuvens tão escuras e ameaçadoras, eu estava como que caminhando por uma rua, uma rua de domingo, vazia, silenciosa, que em momentos passados foi o trajeto para tanto movimento e vida, e que em momentos próximos, voltaria a ser.
Um vão.
E nesse caminhar eu fui observando algumas coisas ao redor e algumas coisas internas. Coisas às vezes simples, mas ainda repletas de encanto, e coisas não tão felizes, como não poderia deixar de ser, mas que ainda assim, de alguma forma, anunciam a promessa de dias menos difíceis.
As palavras que nasceram dessas observações pediram então por uma organização, como as peças que compõem um mosaico e transmitem uma mensagem.
“Ruas de domingo” traz prosas singelas com algum gosto de poesia, nascidas por entre os tantos meses de isolamento. São retratos de dias inundados por sentimentos controversos de desalento e também de esperança, adornados com fragmentos de memórias, de ansiedade, de sonho, de amor e de espera. Momentos que creio eu, em distintíssimas intensidades, todos conhecemos muito bem.