Eu pesco no auge da tarde ocre fragmentos de sonhos que são feito memórias relapidadas em formatos mais encantadores por ferramentas mais precisas.
Então não são apenas os erros e tropeços a despertarem comigo na manhã que se foi, nem os pecados carentes de absolutamente qualquer beleza, mas é também o aconchego de uma voz amiga, de um jardim simples das casinhas do interior, de um eu te amo com a face rente ao peito em um momento de despedida.
Quem sou eu para ainda tentar extrair alguma poesia dessas horas estéreis, como se a armadura frágil das palavras pudesse de algo nos proteger?
Mas os ouvidos não se fecharam para toda esperança e eu ouço vestígios do seu canto pairando na atmosfera, iluminando partes da gigante nuvem de medo que insiste em não deixar de flutuar sobre as almas frágeis.
E há depois dessa mesma janela a pequena cidade empoeirada e rude daqueles dias em que eu me sentava diante da claridade e tecia versos bobos a sentimentos tão nobres antes de mergulhar no poço profundo e perigoso da solidão.
Então me pergunto o que de puro ainda em mim resta agora que submergi das águas escuras e sujas.
O que permanece intocado, valioso?
Apenas o sonho, talvez.
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