Eu me lembro de quando o último amor se despediu Digno, honrado. Era uma manhã de domingo em que se fazia silêncio e calmaria como se faz hoje.
E por anos tudo o que eu tinha era essa despedida, na verdade, essa ilusão da perda do que nunca se teve.
Então eu procurei perder novas coisas para sofrer por elas, e as perdi, o sofri por elas também, enquanto eu fingia que era o bastante substituir velhas tristes canções por novas canções ainda mais tristes, velhas orações por novas súplicas, velhas roseiras por novos canteiros que custam a florescer.
Aos poucos eu fui vendo a vergonha ser substituída por um amigo ainda mais desagradável. O medo bateu ao portão um mês após o último pecado, debochando e abrindo caminho para o que viria no ano seguinte.
Mas mesmo assim eu fui insistindo e desistindo uma centena de vezes. Sentindo um quase prazer em vagar sozinho depois que as luzes se deitam.
Meus olhos se acostumaram ao vazio e minhas palavras se conformaram bem com a própria falta de sentido.
Então eu tento deixar fluir... As palavras, os dias, o peso dos tempos com suas novas cruzes.
E quando choro, se choro, por todas as máculas e fraquezas, é para adubar o solo do perdão e da esperança.
Sim, esperança... Esquecida e necessária em anos frágeis.
Então os anjos me dizem: viveremos para falar desses tempos e ainda me respondem: eu te amo mais!
E respiro em alívio...
A vida é sim forte, e permanece linda.
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