25 de mai. de 2021

25/05/2021


Por alguns passos pelos caminhos do presente mas mergulhando em outroras, quando o sonho do amor ainda tinha o aroma inofensivo de sonho apenas, quando havia inocência demais para restar algum vão para o medo, quando a escuridão da noite era macia e repleta de um sagrado e raro encanto, ouve-se do sempre aberto coração cantigas doces de paz e redenção. 
E talvez ninguém creria no tanto de luz e calor que repousa abaixo das cinzas das expectativas incineradas, ninguém creria no tanto de vida que adormece feito semente abaixo da pele áspera do solo da lucidez, mas tudo ali ainda está. E pulsa. 
E todos os anjos e fantasmas, e todos os anjos que se tornaram fantasmas, e todos os fantasmas que já não oferecem tanto perigo, tentam ainda me trazer a salvação ou me atar aos dias impuros, enquanto eu só diminuo os passos e observo as estrelas que ainda não adormeceram para sempre. 
Pois insisto na ousadia de sentir o perfume da esperança que desce das árvores frias, imensas, banhadas em claridade e em trevas, como eu. 
E é isso então uma rápida trégua, o banhar-se num pequeno oásis como sempre desprovido de muito sentido, mas que está sempre transbordando significados.