13 de abr. de 2016

Muito cedo para agosto


Eu vejo que toda poesia já foi escrita,
Vejo que toda tarde de outono já foi descrita,
Todos sentimentos, esmiuçados.
E escorre daqueles prantos que só um poeta poderia enxergar.
O que me resta?

A alma faz-se triste, como a claridade amarelada
Que deita mansa sobre os chorões do pátio,
Balançando preguiçosamente com a brisa morna.
Deus não tem palavras que oferecer,
Mas está dentro de mim, e sabe ouvir bem.

A alma parece curada, mas é cansaço.
'Espera-me' Digo.
'Espera-me, que a doença incurável não é infausta. É Amor.
Ama-me para que eu te ame,
E te amando veja algum sentido mesmo onde nada há.'

O coração move-se no peito
Como se tentasse adormecer em uma cama espinhosa de lembranças.
O ar tem gosto de agosto, uma secura melancólica, uma dor resignada.
A realidade cinza flutua insossa entre parcas ilusões pouco coloridas.
O céu permanece sem nuvens.

Aproveito a estranha atmosfera para velar os dias idos,
A esperança adormecida, a fé partida.
Olho para os velhos tempos com um carinho que não desejo sentir.
Nada foi real... pois o que é real permanece.
E o presente, o presente é essa porta pesada... difícil de atravessar.