1 de jan. de 2015

Abismos


Vejo este coração sujar os pés nas trilhas que margeiam abismos,
Crendo que se dali despencar, sobrevoará o mar esverdeado abaixo. 
Enquanto não salta, sobrevive em um velho castelo;
Algum dia belo, hoje em tristes ruínas.

E enquanto o sol se põe distante e indiferente, ele medita.
Procura força divina, aconchego na esperança, dor na vontade.
Tudo que lhe tire o chão morto de debaixo dos pés, 
O chão do qual com tanto custo tenta fazer germinar alguma flor.

Vez por outra, vindo do oceano infinito, algum pássaro passa a cantar...
Canção tão doce, tão bela.
E o coração esboça um sorriso de pouca credulidade,
Enquanto sonha com a leveza daquele ar, daquela companhia.

Mas é finda sua força, embora ainda queime sua fé.
Ao se aproximarem tempestades, ele sabe: já não poderá enfrentá-las.
Vê-se sem motivo para dar seu sangue em batalhas,
Sabendo que a guerra está perdida.

Então consola-se com as frágeis e passageiras belezas das horas.
Dá as mãos ao silêncio, seu grande amigo e inimigo;
E invoca memórias remotíssimas, de um tempo de perfumes e sabores,
Enquanto adormece frágil nos braços negros da noite.