30 de jan. de 2015

Lar


Estou no caminho.
Sigo vagaroso.
Se às vezes paro, confuso, é pelas visões floríferas que me alcançam.
Eu as contemplo, imóvel, de lábios selados, e continuo.

Se sigo pela mesma estrada esburacada,
É por nela pairar perfumes de lírios.
Se às vezes cerro os olhos e me aconchego na escuridão,
É por sentir que em certos momentos a luz os magoa.

Indo pra casa.
Sempre.
Sempre em busca do lar. O verdadeiro.
Mas vou calmo.
Passos lentos, gestos sutis.

Passo por baixo da primavera velha e toda florida.
Passo sobre o córrego frio com seus grilos, sapos, vaga-lumes.
À beira da avenida movimentada onde os olhares não se cruzam.
Todos correm, correm para chegar em casa.
Apenas eu vou lento, pois sei que o caminho já é um pouco lar.

E vou agradecendo e pedindo meus perdões.

Acompanhando o sol que rola até o fim do horizonte.


(De "Chiaroscuro")