3 de fev. de 2014

Você não sentiu tudo


Eu já senti tudo; já senti as lágrimas e os sorrisos de árvores e crianças, e já dancei com elas nas brisas primaveris.
E senti uma fração do ódio dos Homens que crucificaram sua mais doce
salvação, e uma faísca do Amor daqueles que tentam iluminar o mundo.
Eu senti parte das dores de muitas vidas que terminaram antes do final, e
estive lá para ver o dia em que a esperança ressuscitou.
E já senti o toque dos anjos e o gosto dos demônios; não sei o que mais eu careceria sentir...
(Você já sentiu a maresia ou as ondas quebrando nas suas pernas?)
Eu fico satisfeito em dizer que já senti muitos banhos de chuva...
(Já sentiu o abraço da pessoa com a qual irá passar o resto dos seus dias? O cheiro do lar onde você terá sua felicidade?)
A simples existência dos sonhos também alimenta a alma do Homem.
(E o amor? Você já sentiu o Grande Sentimento?)
Todo sentimento é grande se o coração não for mesquinho...
(Eu sei que você nunca sentiu que havia chegado onde queria...)
Sim, eu senti! Apenas precisei voltar ao começo novamente.
(O reconhecimento? Um minuto que fosse de glória?)
Isso, com toda certeza, não faz de ninguém alguém melhor.

Eu sorvi as luzes da cidade e degustei a escuridão dos Homens.
Eu senti a doçura da paz e a obscenidade da guerra.
Eu senti o forte e o frágil.
Eu senti o que desejei e o que precisei sentir.
E se isso não for o suficiente; eu continuo sentindo tudo que fui e já sinto tudo o que serei; não existe mais nada que eu ainda precise sentir.

(Você pensa ter sentido tudo, mas sei que ainda lhe dói o vazio; você é como o oceano que suporta qualquer coisa sem variar seu volume. 
Sei que você sentiu o que desejava e até o que não era capaz de suportar. Sentiu amor pelo claro e pelo escuro, pelo ínfimo e pelo imenso. Mas eu digo: sei de tantas coisas que você não ainda pôde sentir. Agora mesmo começa florescer outra bela primavera em seu Jardim... 
Você ainda não sentiu nada.)


De "Em meu Jardim Secreto..."