21 de fev. de 2014

Há um galho florido no ipê


Hoje eu vi a esperança, anjo meu.
Ela estava no galho florido do ipê.

É fevereiro, nenhum outro ipê está florindo...
Eles apenas florescem em meados de julho e agosto,
quando o inverno é presente e eles temem a morte.

É uma árvore poética.
Diante da ameaça imposta pelo frio, pelo vento, pela aridez,
os ipês dão o que poderia ser uma última explosão de vida,
escrevem um epitáfio com flores de cores intensas,
lançam suas sementes aos ventos numa tentativa de perpetuação.

Mas eles não morrem...

Os ventos frios, inclementes e secos, partem.
A morna primavera chega e os abraça como mãe carinhosa.
Eles ressurgem.
O verde volta aos galhos enegrecidos.
Volta a sombra onde brincam as crianças.

Como disse, é fevereiro, meu anjo.
Mas há um galho florido no ipê.
Um galho amarelo de flor.
É como uma esperança amadurecendo.

É uma resposta à última grande tempestade, eu sei.
A última tempestade que castigou o velho ipê.
Tirou suas folhas, derrubou tantos de seus galhos.
Sei que temeu a morte naqueles instantes, o ipê.

A vida tem dessas...
Ela nos ataca sem chance de defesa, tantas vezes.
Que fez o ipê para que a tempestade o ferisse?
Que fizemos nós para que fôssemos feridos?

Não sei, anjo meu.
Mas sei que nossa resposta, assim como a do ipê, será florescer.
Os galhos tirados pela tempestade, 
as lágrimas que nos forem tiradas por outrem,
tudo isso será o prelúdio de frutos e sementes.

É entristecedor que antes da flor, antes do amor, 
conheçamos o sofrer.
Dói profundamente, como profundamente estão as raízes do ipê,
sequer imaginar que alguém lhe cause dor.
Mas hoje eu vi a esperança, meu amor...
E meus olhos quase não contiveram o rio abençoado de emoções que se formou.

Eu olhava as meninas, tão alheias às diferenças, sentadas à sombra.
Eu sentia o olhar carinhoso de alguém que nos ama, 
mesmo sem nos compreender.
Eu lembrava da profusão magnífica do azul e verde dos seus olhos,
E de você chegando de braços lindamente abertos até mim...
Meu coração, então, mergulhava em límpida felicidade.

Eu vi a esperança, meu doce sonho,
e ela era amarela, era bela, como as flores do ipê.