10 de fev. de 2014

Foi ontem a primavera


Foi ontem que o sol nasceu dócil, adornado por nuvens cintilantes.
A claridade deitou sobre a cidade adormecida, lentamente.
Os fantasmas recolheram-se aos seus escombros,
As feridas pararam de latejar,
O passado repousou, inerte, sobre as relvas orvalhadas.
Decretei que fosse impedida a presença que qualquer medo, qualquer vergonha.
Era minha Primavera que desembarcara no meu peito, em pleno verão árido.
Minha sagrada Primavera, que tornou as ruas macias como algodão e perfumadas como os bosques após as tempestades.

Foi ontem a Primavera...
Mas já tanta saudade sinto da Flor Perfeita.
Pétalas aveludadas, perfume suave, beleza magnânima... 
Foi ontem minha amada Primavera,
E eu, tão humilde jardineiro, ando pelos canteiros da memória resgatando cada instante.
Foi ontem minha sempre esperada Primavera,
E hoje o que há nas avenidas é o sabor amargo do verão e da ausência.
Mas foi ontem... minha primavera.
E dentro do meu peito repousa a mais sagrada das sementes, 
O filho soberano, fruto da nossa tão veloz quanto intensa união.
Dentro do meu peito repousa o Amor.