1 de jun. de 2016

É tarde


Então era essa a antiga sensação de caminhar em nuvens?
A manhã trouxe da funda memória tempos de outrora.
A mesma bruma antiga, com seu sabor úmido e doce,
Pairava sobre a cidade ainda sonolenta;
E juntos dos sutis feixes de luz
Transformava as ruas em belos caminhos oníricos.

É manhã.

Se fosse livre, mergulharia impudente naquele raso instante.
Beberia de suas luzes e suas sombras,
Sem a sempre presente dor do passado junta dos temores do futuro.
Liberto das palavras!
Palavras incômodas, barulhentas, pesadas, natimortas.
Sem os frios grilhões do tempo e do espaço.

É noite.

Seriam extintos os espasmos horrendos do peito?
Sem mais clamores fervilhantes por ilusões desdenhosas?
Adentro um campo desconhecido,
Desacompanhado da esperança, do amor, da dor.
Os sonhos gritam de longe: desertor!
Não olho para trás e nada resta a dizer.

É tarde.