12 de jun. de 2012

Tudo está cheio de magia



Há pouco foram épocas áridas.
Mudanças, dúvidas, os mesmos medos de sempre somados a alguns outros.
O caminho também era sempre o mesmo. Movimentado, poluído, repleto de pessoas com muita pressa e pouca educação.
Pessoas avançando o sinal, avançando a faixa de pedestres, avançando em outras pessoas.
O sol nascia e se punha sempre às minhas costas; o sol nunca me olhava de frente.
Era verão tão quente de dar raiva e eu sentia falta dos ipês.
Pensei: como um ser como eu pode viver num mundo tão sóbrio? Tão certo e seco?
Não pude deixar de lembrar da infância, onde tudo eram magias e belezas.
Não pude deixar de sentir falta das ilusões douradas que se faziam minhas armaduras.

Mas não é que há uns dias as coisas mudaram?
Mudei de bairro, de caminho, de sintonia.
Agora, virando a primeira esquina de casa, o sol está explodindo em luz, tanto ao ponto de quase me cegar, por Deus que ninguém vem à frente, porque nem olho mais o caminho, apenas enxergo aquela imensa e delicada luz me desejando um bom dia.
Dobrando a segunda esquina, vejo não muito longe os ipês que começam florescer, escondidos entre moinhos, chaminés, outras árvores mais escuras.
Dobrando a terceira esquina chego à Avenida dos Ipês, eu e o Amor a batizamos assim. Uma avenida longa e dupla, onde tive minha infância, fiz meus primeiros amigos, dei meu primeiro beijo; nos outonos/invernos ela fica decorada com as flores rosas e amarelas dos ipês.
É um presente aos olhos.
Agora vejo as meninas ensaiando passos de dança lá fora, é pra gincana de aniversário da escola; aqui dentro ouço uma canção que fala sobre obras-primas; uma voz suave, uma melodia impecável. É um milagre.
Lembro-me dos nossos corpos, corações e almas tão alinhados. Lembro do calor que geramos em resposta aos nossos frios.
Lembro-me da sua doçura ao dizer que ficaria mais uma noite comigo, que não tinha problema, que iria de volta à sua cidade na manhã seguinte, acordaria mais cedo para chegar na hora ao trabalho.
Foi mais uma felicidade.

Mais à tarde, junto dos primeiros minutos da noite estarei indo pra casa, eu e meu sol. Ele, tão imenso, quente e magnífico, se fará humilde, se esconderá atrás das árvores no horizonte distante para que possa brilhar uma pequena estrela em seu lugar.
E ao me dar conta de tudo isso seguro para que meus olhos não transbordem.
Os mundos que conheci e construí há tanto tempo, permanecem imersos neste daqui, não acredito que quase deixei de sentir isso...
Não acredito que quase deixei de sentir.

Tudo continua cheio de magia.