16 de jun. de 2012

Nada mais dói



Faço-me chuva; silenciosa em sua queda indolor.
Precipitando-se não apenas absolvedora, mas absolvida.
Faço-me aroma e sabor de terra molhada, encharcada de vida. Perdoada por suas flores até então não germinadas, amada por alguns de seus frutos já suculentos.
Faço-me brisa pacífica, transportadora de docilidades.

Assim finjo que não ferem mais as dúvidas.
Finjo que com a vinda do outono tudo o que ainda persiste morto e seco aqui dentro há de regenerar, acariciado pelo vento não tão dócil.
Finjo que sou quase divino, ao ponto de flores me brotarem das mãos.
Finjo tão bem que acredito que nada mais dói.
E quase não dói...