29 de jun. de 2012

A felicidade tenta ser bem-vinda*



Aconchego-me em meu silêncio... o tão dolorido e verdadeiro.
Aconchego-me na dúvida, na sutil claridade da minha minúscula árvore de natal.
Os anos passam e eu permaneço nas mesmas canções, permaneço nos mesmos medos infantis... trancando nesse quarto repleto de noite fria.

O que espero tão gentilmente?
O que está para chegar e bater nessa porta?

Os dias passam lentamente, escorrendo como a água de uma torneira mal fechada...
Uma água enferrujada que não volta, que não é útil.
Enquanto eu continuo implorando, implorando, implorando...

O que será suficiente para saciar a fome do meu espírito?
Essa fome requintadamente cruel.
O que mais posso oferecer-me aos lábios amargos?

A solidão voltou a não ser uma estranha para mim.
Eu voltei a sentir aquele vento perigoso acariciando meus cabelos,
Dizendo que em meu peito esconde-se um caçador sempre faminto.

Mas a felicidade tenta ser bem vinda, enquanto eu recuo...
Recuo adormecendo sobre minhas cinzas conhecidas, minhas cinzas macias.
Cinzas de jardins queimados de inverno.

A felicidade tenta ser bem vinda,
E eu peço que não se aproxime demais.
Sei da dor que ela deixa quando decide partir.


*Em: "Alma à tona" - pag. 98