27 de fev. de 2015

Eu sou solo


Não tardará a descer do cume
A lava viscosa e mortífera.
Todas as sutis belezas: flor, arbusto, pedra, inseto;
serão abraçados pelo lento e ardente fim.

O solo, antes macio, gestante de toda vida,
Torna-se crosta morta, dura e negra.
Aquela velha e conhecida casca estéril
Que sufoca e aniquila até as esperanças mais insistentes.

Nas madrugadas que se sucedem, o silêncio corta os ares como navalha nova.
A indiferença, já exausta, perde seu desejo de destruição.
Ventos frescos adoçam a solidão, a única companhia que jamais se despedirá. 
De longe, talvez não tão longe, é ouvido o cantar das rosas.

A terra se emociona... e no seu âmago descobre-se força para mais um pranto.
Ela sente em sua pele bravas sementes, sobreviventes ao fogo inclemente,
As aconchega na humilde umidade de suas lágrimas.
E elas, com o indecifrável poder que só as coisas fracas têm, ousam ir à vida.

Com dolorida fé rompem o duro manto cruel,
Sedentas pelo brilho das estrelas, pelo ar limpo.
Pela manhã, renderão novamente flores e louvores à alguma borboleta gentil,
Esquecendo dos dias em que apenas dura escuridão as envolvia.