4 de fev. de 2023

Queda livre

 



Algum tipo de sentir jaz ainda imaculado 

Mas tão oculto 

Tão profundo 

Que só um raro vislumbre brilha e transparece 

Às vezes 

Através das ranhuras superficiais feitas na realidade

Em algum momento de santa loucura 

E são esses 

Tempos que não passam

Enquanto eu me pergunto o que ainda não foi dito 

Que palavra ainda resta a ser usada 

Qual sonho não foi sonhado e perdido 

Os primeiros jasmins do ano florescem então 

E é fevereiro 

E chove como se o céu se livrasse de mágoas 

Um aguaceiro agoniado 

Veloz

Feito o peito que se contrai e se expande 

Como marés

Lembro-me assim de Elza e seu choro que não era nada além de carnaval

De Glória com seu sorriso rebelde

Peitando a vida ombro a ombro 

E da voz de Gal

Zombando do impossível 

E há também um homem que enfim amo

E um menino que enfim entendo

Unidos no reflexo diante de mim 

Ambos falando e gesticulando e sem parar 

Sobre medos

Sobre utopias 

Sobre o eterno e o efêmero

E fecho os olhos e também danço 

Sorrio 

Canto

Por alguns instantes de distraída paz 

Em meio a essa queda livre.