10 de nov. de 2014

Faça uma reverência


Apenas descobri ainda jovem o que sabem em segredo os velhos:
A vida é tola.
O sangue e lágrima que derramamos, de que servem?
E o amor, o puríssimo diamante azul, lapidado com tanto esmero;
Que é senão uma pedra morta e fria quando não vestido?
Do que nos protege?

A saudade vem das ilusões,
Da meiguice ingênua das rosas ao desabrochar.
Das lágrimas que partiram, secaram, não purificam mais.
Das emoções que não jorram,
Dos abraços que não aquecem,
De algo sagrado para sempre perdido.

Não crescemos;
Não aprendemos a lutar por sonhos e devaneios;
Não aprendemos a diferenciar utopias de realidades:
Apenas nos concretamos.
Distantes ou presentes,
Somos blocos de pedra, culpados pela própria dureza.

Mas tentamos...
Visitamos os jardins pelas tardes e manhãs.
Sorrimos às flores em agradecimento por tamanha frágil beleza.
Persistimos. 
Alimentamos a esperança que nos alimenta com mentiras bonitas.
Chamamos esse teatro de vida.

E quando cerram as cortinas, sentados em nosso deteriorado camarim,
Borramos a face ao tentar limpar a maquiagem que nos fazia outros.
Os murmúrios diminuem, a platéia se esvai; 
Penetra o silêncio.
Um companheiro que não é amigo nem inimigo: 
Apenas é presente.

Nas ruas ninguém é visto por ninguém.
Todos tão bons atores, tocando suas tragédias e comédias.
Mentirosos, frágeis, carentes, ambiciosos, deuses, monstros.
Rastejando adiante com uma sina de sentido desconhecido.
Perdidos, não no vasto mundo selvagem, mas dentro de si.
Um espetáculo morto e sem fim.