30 de jul. de 2014


Peço abraço à lágrima que não cai dos olhos,
como uma angústia sem remédio descoberto.
Peço abraço à bondosa velha cabocla, 
doutora da vida e dos ventos.
Peço abraço à poesia, que, como mãe,
acolhe seu filho repleto de medos e deformidades.

Peço colo ao sol, que veleja calmo na tarde morna,
que acolhe a alma frígida, dolorida.
Peço colo ao silêncio, que fere, mas também alivia.
Peço calma à memória, minha menina que chora.

Há tantos dias sendo poeira,
repousando sem escolha sobre diamantes e esperanças apodrecidas.
Um pó fino, suave manto sobre os telhados e laranjeiras.
Se não houvesse em mim o que sobrevivesse à carne eu não sentiria tanto;
nem a dor, nem o desejo, nem tanta saudade.

Mas calo o sofrer da minha alma diante de maiores sofreres.
Ainda há o sonho, em que os anjos, doces amigos, destroem medos e quilômetros.
Como antes e sempre, não sei onde pousar meus passos.
Meus pés, pouco usados, acostumados a levitarem ao bater das asas, 
sangram aos pedregulhos do chão.
E enquanto acaricio o que já são feridas, tento compreender a diferença entre nós e laços.

Seguro as lágrimas, como botões ainda despreparados para exposição de suas cores.
Seguro o peito frágil, carente do único abraço consolador.
E nesses dias de profunda escuridão, esforço-me para amar corretamente.
É assim, depois de rastejar nos pântanos e por fim conhecer a beleza dos bosques, é difícil não se acostumar aos milagres.

E nós, os sem-ambição, somos os piores ambiciosos.
Queremos a verdade, queremos a paz, queremos o amor e a luz.
Logo aqui, num mundo onde tudo parece mal colocado, desencaixado, fora do lugar.
Nós, loucos, sonhadores, marginais, poetas, amantes, deserdados, filhos-pródigos.
Nós, os ridicularizados, que acreditamos que também somos parte do paraíso.