22 de jul. de 2014

É só Agosto...


Ecoa por algum canto meu clamor pelo que transcende a vida que se vê?
No que poderiam pousar os sentidos além desta fria ilusão?
A carne, a distância, os móveis, as casas, os jardins, as ruas, tudo parece ocultar o que de raro, verdadeiro e eterno existe.
Cascas, alegorias; áridas, espinhentas, duras.

A fantasia ainda me acena das nuvens, como nas épocas idas de menino.
A fantasia... uma pequena ponte florida aos verdadeiros mundos.
Com o passar dos segundos, das décadas, a ignóbil realidade penetra.
É injetada à força nos meus braços fracos.
Quanto mais ela me preenche, mais de mim morre, mais de mim fica vazio.

Não é gloriosa a missão de buscar o indestrutível em um mundo transitório.
Não espanta o frio e o medo buscar abrigo em um castelo de cartas.
E não parece certo repousar nos ombros do Amor o fardo pesado da minha última esperança.

Se às árvores foi dado o solo que as sustenta e aos pássaros a leveza do ar em que bailam,
Por que negar aos Homens algum sentido nesse caos de Dante ao qual somos atirados?
Diziam-me que era errado não ter qualquer fé,
Agora dizem-me que ter fé é para os tolos.

Mas pelos ventos, eu sei:
É só Agosto que se aproxima,
Lábios e ares secos anunciam.
Agosto traz esse inconformismo perante o que,
de fato,
é inconformável. 
A luz é difusa, e difusos também são as sensações e o pensamento.
Some-se à proximidade de Agosto uma distância de centenas de quilômetros...
Não há Homem são nessas condições.