29 de set. de 2024




 Há essa velha voz que se propaga

Incessantemente 

Por todos os cantos do espírito 

Às vezes terrivelmente ensurdecedora 

Às vezes inofensivamente branda 


Em certas manhas ela se cala 

Como se o mundo fosse uma máquina bem lubrificada 

Emitindo poucos ruídos 

Existindo sem muito sentido de existir 


Em certas tardes ela é rude e áspera 

E se propaga como se quisesse ferir 

E fere

E eu sangro 


E em certas noites ela me lembra de todos os milagres enjaulados 

Das asas dobradas e pesadas que carrego nas costas 

Que me fariam alçar voos magníficos 

Por terras ainda inexploradas


Mas nos sonhos ela canta melodias adocicadas 

Canções de tempos de outrora 

Passados e vindouros 

E por um instante adormece 

Enquanto me confessa ser eu mesmo que canto.

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