26 de set. de 2014

Lacuna


Por mais que tenha sido dito, 
há lacunas de silêncio absoluto na história.
Não dei voz a toda dor, a todo amor.
Enterrei tanto sentimento em cova rasa,
cova descoberta pelas chuvas, pelos ventos...

Porém, ninguém vê o que apodrece abaixo do chão,
Ou o que floresce acima dele.
Ninguém vê.
E eu busco, mas respondem apenas as mesmas poesias,
as mesmas canções, as mesmas mentiras.

Não restam mais perdões a serem dados,
Fantasmas a serem expulsos.
Há noites em que até a solidão parte,
permanecem as memórias.
Sujas, embaralhadas, inúteis, como cartas de tarô. 

Que faria eu com elas?
Assumiria eu o papel de um verme,
nutrindo-me do que já foi vivo, mas hoje se decompõe?
Isso parece certo?
Parece justo?

Cabem em mim todas as escuridões.
Não oferecem transtorno.
Repousam pacíficas já, como se não me cortassem.
Falta espaço para as luzes, que anseiam tomar fôlego,
Que necessitam algo para iluminar;
Mas são mudas,
Não há o que as ouça.