24 de set. de 2014

Âmago


De que me consola olhar a rosa e somente ver a rosa?
Não. Há algo além, e é nesse além que preciso chegar,
é esse perfume que preciso sentir.
É o espírito dela que preciso tocar.

As coisas não são as coisas.
As coisas são aquilo que se sente por elas.
O mesmo sol que há dois dias chovia gotículas de ouro,
hoje só aquece e parece tão pouco. É pouco.

A alma continua a desnudar-se,
como se infinitamente camadas e camadas ficassem puídas e acabassem.
Uma batalha interminável em busca do sentido, do âmago, da Luz,
que deve existir mais adentro, mais afundo.

E esta linda dor, esta maravilhosa  e abençoada dor,
é quem sussurra aos meus ouvidos: você está vivo!
Os olhos não apenas sobrepassam como os ventos,
eles penetram como agulhas. Quero o que está dentro.

Sim, também questiono-me sobre outro caminho.
Os famosos caminhos razoáveis que todos seguem,
para assim ostentar uma vida razoável.
Talvez não eu. Ainda não aprendi tal boba lição.

E em minhas veias quem circula é o amor,
como o vermelho que repousa nas células da rosa de botão ainda negro.
Viremos à luz, um dia. Eu, a rosa.
Cumpriremos em verdade nossa sina, ainda que solitariamente.