27 de set. de 2014

Afã


Perdão pelo que eu quis,
e pelo que quero.
Pelo afã de mais um instante, 
mais uma tarde.

Entenderia...
Qualquer vivente entenderia ter tomado o caminho errado,
ter cantado às estrelas que quase nem se via... Que nem me ouviam.
Frágeis ossos e músculos escolhiam a estrada, mas com o coração de guia.

Vislumbre, não são para mim as flores.
Ainda que as ame, ainda que as beije, ainda que as proteja;
são para o sentimento,
que busco e invento, premido pelo desejo de perpetuar o transitório.

Já não me envergonho, ainda que devesse, dos meus descaminhos.
É tão belo e vasto o universo em que me perco, embora silencioso demais.
Se somos atados às grosserias da vida, às suas feiuras,
Como não desejar criar laços com o que há de belo?

Eu me perdoo.
Perdoo pelas vezes em que o sonho falou mais alto que a sábia razão. 
A tão séria razão, que impede o sofrer, o sangrar, o viver.
Dela finjo proximidade, mas mantenho boa distância. 

Eu me perdoo e reincido no pecado de ter fé.
Continuo amaciando a terra com os dedos nus,
Continuo acariciando as pétalas com os lábios,
Continuo revivendo a alma com utopias.