4 de jan. de 2014

Asas e raízes


Se bebi rápido demais era por medo do vinho esquentar.
De quente basta a noite, as paredes, o chão, a cama vazia.
Se não prometi a partida foi por medo de não conseguir levar na bagagem tudo de mim.
E já é tão pouco o meu tudo. Levar a você apenas metade seria desrespeito.
Se ainda não firo as mãos na terra dura que deve ser um jardim é por saber que à noite já existe uma plantação de estrelas, todas florescidas, desabrochadas, a acariciar meu olhar faminto de belezas. 

Existe esta necessidade de justificar os passos e os atos,
Mas não que se espere algum ato de compreensão,
Não existe compreensão. Aceitação, no máximo, se com sorte.
Existe esta necessidade como existe a necessidade de ouvir outra vez uma mesma canção.
Existe, como existe a necessidade de recordar os dias em que o abraço era refrigério para alma e corpo incandescentes de medos e loucuras atrozes. 

Justifico os movimentos como quem acena dos escombros pedindo resgate.
Mas já sei que não há resgate que me tire de mim com vida.
Digo o que sinto e digo o que sinto e digo o que sinto,
Tantas e tantas vezes, embrulhado em palavras e expressões que são tanto e tão nada, porque os ventos, as marés, os homens, as flores, as luzes precisam saber: eu sinto!
Não que precisem, de fato. 
Eu é que preciso que saibam, para que eu continue meu sentir, que é meu sonhar, que é meu respirar...
Que são minhas asas... minhas raízes.