3 de ago. de 2012

Pedido



Leva-me novamente e para sempre ao virgem sonho imaculado,
Aos silêncios que permeiam os montes inatingíveis.
Traga-me, absorva-me aos bosques,
Embebeda-me do perfume que atribuo ao alecrim de início de noite.

Porque os dias são secos, e os ventos movem os galhos moles e já cansados das jovens árvores.
Porque as vozes não se calam, o corpo não deixa de suar e queimar, a mente não repousa.
Porque a noite é longa e eterna dentro dos seus segundos infinitos.

Silencia-os, silencia-me.
Injeta nesta célula infausta o elixir divino.
O puro sabor miraculoso das coisas simples.
Abra, arreganha estes olhos quando ambos fitarem o céu azul, cúpula de safira contrastando com as bolas de flores rosadas dos ipês ao inverno.

Guia-me, como o talho da terra guia as águas do rio.
Guia-me, mas faça-me acreditar ser livre, pois talvez, um dia, realmente o seja.
Permaneça aqui, mostra-me sempre sua face branda e alva.
E não deixe que eu me parta, frio e só, para tão longe,
Como no pesadelo em que as paredes me sugavam.