25 de mar. de 2011

Recuo perante o luar


Perdidos uma hora no futuro, sustentados por meses dum passado confuso.
Duas taças pela metade, duas garrafas vazias e um gato que não consegue trepar no muro para escapar.
Duas lascas de espíritos distintos abraçados no solo frio duma madrugada clara.
Luzes duplicadas em nossas pupilas embriagadas.

O torpor de Dionísio preenche as lacunas ensanguentadas, estanca o jorrar dos medos e dúvidas, amacia nossos atritos.

Seus cabelos permanecem tão macios quanto na primeira vez em que os enrolei com meus dedos frios e magros. Estava nas pontas destes aquele que tentou me salvar, aquele a quem pedi socorro, aquele por quem implorei, aquele a quem eu não soube amar.

A lua faz-se duas, uma para cada um de nós.
As nuvens bailam como se nos apresentassem “O lago dos cisnes”,
E meus olhos alagam-se como marés.

Em sua cama nos deitamos nus.
Nos tacamos como que deslizando os dedos por um mapa recém desenhado.
E sem emitir qualquer ruído ou exigir qualquer explicação tento, mais desta vez, permitir que você me tenha para si.
Tento...
Mas embora as estrelas, o intenso luar, o chão frio e o álcool; faço-te recuar.
Mais uma vez, tranco-me como cadeado enferrujado, e meu corpo grita de lábios fechados, ensurdecedoramente: basta!

Ainda não consigo sonhar.
Ainda não consigo sonhar...