21 de mar. de 2011

Trôpego trânsito


O céu que mais amo, por vezes é esse cinza, que tanto chora.
As canções que me guiam são aquelas compostas por deuses,
meses ou anos atrás.
E embora tudo em mim seja mutável tal qual nuvens, permaneço por completo o mesmo.
Eu, que tão facilmente transito por purgatórios, montanhas, cemitérios e jardins.
Ainda temo os mesmos temores, e desejo os mesmos amores.
A coragem que trajo não é nada além duma anestesia em meus músculos covardes, uma anestesia aplicada por minha estupidez, ou por minha arrogância.

O que mais me dói sou eu.

Eu e minhas ressurreições diárias,
Eu que adentro numa terceira década de nada.
Eu e meu espírito insosso, sempre coberto por aquele repugnante luto já descrito.

Enquanto minha consciência flutua e mergulha;
abusando, a safada, dessa liberdade que lhe é peculiar,
Eu aqui, preso nessa sala verde, em sentido físico e sentimental, afogo-me por horas intermináveis numa esperança gelatinosa e não perfumada.
Desperdiçando lascas do meu cérebro com seres desprovidos do músculo que devia pulsar no peito.
Seres que ao meu redor se regozijam e chafurdar em suas realidades apodrecidas.

Já não há propósito em se olhar o céu sem poder tocá-lo eu mesmo.
Já não há prazer em olhar a chuva cair sem poder banhar-me todo nela, correndo por todas as ruas e todas as florestas, sentindo o gosto e o cheiro dela.
E já não me compraz admirar a beleza de todos os olhares sem ser o ponto focal deles,
Tampouco, louvar a perfeita delineação de tantos lábios sem poder provar-lhes o sabor, ao menos um pouco.

Pouco; eis o que tento te dizer: o tudo ainda me é muito pouco!