20 de mai. de 2023

 


Houve um pequeno 

Um curto espaço de tempo 

Em que não havia tempo 

E por não se saber da passagem das horas 

Se era infinito

E tudo o que agora é tanto 

Os relógios

Os horários 

As hierarquias

As falsas promessas e falsos sorrisos

Os sonhos monumentais

Era nada 

Apenas um ruído distante

Ecoando no horizonte sem fim

E tudo de tão pouco 

Um aroma

Uma luz do sol

Uma flor 

Um riso de criança 

Um fim de tarde 

Um outono

Era o que era na verdade tudo 

E bastava 

Talvez eu soubesse antes 

Muito mais sobre tudo do que sei agora 

Com a memória ainda pura 

Límpida

Repleta de ecos fluorescentes

Da verdadeira vida 

Agora então 

Quando os anos passam displicentes 

Eu luto para levar o menino para brincar lá fora 

Como antes 

Quando o que doía

Era apenas a noite chegando e pausando a felicidade do dia 

Quando o que doía era só um joelho ralado 

E não um coração que se partia.