10 de out. de 2017

Retirante


Toda poesia virou retirante desse sertão.
Partiu sedenta e maltrapilha pelas veredas da vida em distopia,
Cambaleante, sôfrega,
Já sem força e vontade de olhar para trás.
O azul reluzente do céu, as cantigas que faziam sorrir;
Já nem sabe se tudo foi miragem ou se o correr faminto do dias
Tirou foi a verdade de tudo.

Da boca dos noticiantes escorre sangue e esgoto.
Chorume tóxico da liberdade, da beleza e do amor em decomposição.
E se a poesia segue rumo ao litoral, rumo ao mar sem fim,
Te asseguro que nem é por fé,
É pelo sonho duro de morrer, a maldição que corre no seu sangre.
Há sempre um "e se" que a faz colocar um passo diante do outro...
Depois mais outro.

Os tolos é que são felizes, bem sabemos.
De olhos vendados parecem nem sentir sua carne
Sendo fatiada e devorada por vampiros e facínoras.
Com a chegada da luz, os demônios tem ensandecido,
Bradam vorazes, decretam, aniquilam,
Destroem tudo o que suas mãos pestilentas alcançam.
E nós, nós estamos fartos, cansados; já não podemos mais.

O caminho adiante é agreste e de se perder de vista.
Alguns vão meio acompanhados nessa sina,
A sina severina de todo homem,
Outros vão meio sozinhos, rezando baixinho por clemência,
Clemência que parece que se perdeu nessas lonjuras,
Por onde só um fio de esperança ainda ousa passar.