3 de abr. de 2017

Subsolo


Amanhã todos vocês não estarão aqui.
É o que diz a a ciência.
É o que diz o despertador
Quando interrompe algum sonho bom demais.

Amanhã todo esse sentimento será mais fraco.
O escuro da noite se encarregará
De limpar as curvas mentais
Onde desabrocham memórias mal iluminadas.

As ruas, os lençóis, as luzes coloridas e giratórias,
O gole de cerveja, o gosto do beijo,
O cheio do tabaco, da maconha, do perfume,
Tudo se liquefará, escorrerá para o subsolo do consciente.

É quase um mistério o que habita esse submundo.
É meu; alma, mãos e coração fizeram,
Mas nada me pertence mais,
Tanto quanto nada nunca me pertenceu.

Libertadora e desesperadora essa impotência
Diante das agridoces saudades e das inúteis perspectivas.
Tudo o que é sólido pode e irá derreter...
Mas e o que não é?