16 de nov. de 2013

Instante


Nos abandonamos reciprocamente, lentamente, dia após dia, semana após semana, mês após mês... Até não restar nada, nem dor, nem amor, nem culpa.
O fim veio silencioso como a noite; chegou, restabeleceu o silêncio que já queria imperar, traçou as linhas e limites de distância.
O fim não é algo tão triste quanto dizem. O fim é algo brando e pacífico. Apenas uma etapa.

Talvez meu amor volte a ser um amor pela procura.
Isso não era de todo mal.
Não posso negar a beleza disso, embora doa.

Como nesta noite, naquele sonho, em que um abraço desconhecido envolvia todo meu corpo e minha alma e eu me sentia intra-útero novamente, ou aninhado, ou soterrado, como uma semente aguardando a primavera.
Aquele abraço que, meu Deus, era tão pouco e ao mesmo tempo, tanto!
Um abraço suave, frágil, ermo, delicado, como as pétalas das minhas flores simples, e poderoso como os trovões que rugem no céu cinza lá fora deste quarto escuro que sou.
Nem mesmo as palavras, as palavras que gostamos tanto de despejar aos sete ventos e por qualquer motivo, foram necessárias.
Apenas o instante foi necessário.
Apenas a desnecessidade de compreender, ser, fazer, conquistar, foi necessária.

Mesmo que os anjos, com sua aura prateada, fossem invisíveis a estes olhos sujos.
Mesmo que os demônios estivessem liquefeitos sobre os lençóis.
Mesmo em minha infinita confusão e desejo e medo e pequenez e grandeza...

Havia o instante, e o instante foi tudo que precisei para ser salvo.
Outra vez.