23 de ago. de 2013

Eufemismo


Passando em frente ao velho museu estavam os dizeres: "Desperte o músico que há em você!". Seguido de "Inscrições..." etc. 
Tentei filosofar: O que haveria cá dentro para ser despertado?
Mas logo meus olhos se deliciaram com os três ou quatro ipês amarelos repletos de flores nascidos à frente do tal museu, então as filosofias evanesceram, mais uma vez.
Eternas reticências... 
Todos os dias, todos os pesadelos, todos os anseios. Reticentes.
Nada é concreto, prático, solucionável, claramente compreensível. 

Também existe um pássaro no meu coração que quer sair. 
Não sei se ele é azul como o de Charles, porque dentro tudo é tão confuso e escuro que não sou capaz de enxergá-lo. 
Mas ele está ali, pois em certos dias, em certas horas desses dias, eu ouço seu canto. 
Um canto tão leve que por vezes vai fazendo lágrimas suaves brotarem lentamente dos olhos.
Um canto tão pesado que segura estes mesmos olhos abertos e secos, madrugadas insones adentro.
Talvez esse pássaro tenha se aninhado em mim para dar sentido a esta vidinha medíocre e sem profundidade. Talvez ele direcione meus sentidos para os autorretratos que Deus deixou espalhados por aí. E isso é tão bonito de sentir.
Porém, talvez, esse pássaro seja um inimigo cruel, que já consciente do fato de eu não ser nada além de um jaula feia e enferrujada, adentrou assim mesmo para fazer-me sentir culpa da sua falta de liberdade.
Quem é você, pássaro?
Que quer de mim, realmente?



imagem: internet