4 de jun. de 2023

 


Este que observa a alvorada em calmaria

Não chegou aqui facilmente 

Ainda que de forma oculta 

Seus pés sangram

Pois foram raros 

E custaram caro 

Os momentos em que caminhou por flores 

Seus olhos fitam o horizonte com suas cores escarlates

E as luzes da manhã iluminam suas cicatrizes 

Algumas rasas 

Outras 

Abissais 

E o tempo irá passar 

Continuará seu cavalgar voraz 

Saltando anos como pequenos obstáculos

Sem nada levar 

Sem nada extinguir ou apagar 

Para que não se deixe de usar palavras como 

Sonho

Saudade 

E esperança 

O tempo irá passar 

Mas agora 

Por um minúsculo instante 

Absolutamente nada dói

E a vida derrama sua misericórdia 

Nas rachaduras do espírito alquebrado

Ainda não é tão tarde 

Mesmo com as portas fechadas 

Mesmo com o profundo silêncio

Mesmo com todos os adeuses.