12 de mai. de 2022

 

O sol nasceu já era meio dia. 

E esse calor tardio é o mais próximo de um abraço em dias, ou séculos. 

E isso é apenas meu dedo traçando mensagens em códigos tolos sobre a areia, segundos antes de ondas suaves tudo levar. 

E é apenas uma forma de novamente urrar de lábios selados, de rogar socorro a fantasmas frios e acariciar as cicatrizes das batalhas que venci, ou que perdi, não recordo bem.

Ainda é cedo, dizem, mas eu já ouço a cantiga do tempo. . . 

Um ruído ininterrupto que quase se sobrepõe às melodias adocicadas dos tempos dourados. 

Ainda é cedo, insistem, mas ao redor daquelas memórias ternas; os joelhos na estrada de terra, um anel prateado, dois sorrisos; já há uma bruma escura e densa de esquecimento. 

Todas as vozes que sobraram confundem verdades e mentiras em seus discursos intermitentes. 

É um cenário intrigante... a realidade:

Às vezes eufórico, quase sempre cansativo. 

Esses fragmentos de encanto, esses sopros de esperança, essas pequenas belezas que desabrocham como flores azuis, são o alimento pouco nutritivo para o espírito que já degustou nuances do paraíso. 

Mas então veja: as ondas já vêm para levar meus rabiscos novamente. 

Antes delas chegarem eu vejo o vento começar a desfolhar as árvores e com o olhar pausado em um horizonte próximo demais eu tenho a certeza de que hoje pertenço a outro lugar. Mesmo que não outro lugar físico, mas outro estado de alma, outro destino. 

Então o oceano das horas engole meus devaneios, dissolve as lamúrias e cores junto ao seu sal infinito... 

Um dia eu entenderei que, na verdade, o oceano sou eu.