6 de ago. de 2021

06/08/2021

 


Era preciso viver mais para versos melhores,

E o mundo ainda em pausa, 

Ou ao menos apenas eu em pausa,

Pelos que se foram ou quase se foram,

Por respeito, 

Por medo. 

E sim de novo o mesmo céu de agosto, 

Um pouco mais frio,

Um pouco mais cinzento,

Um pouco mais triste,

Com a mesma estiagem brava de sempre,

Ou um pouco pior que sempre,

Dizem,

Levando quase todas as cores dos jardins cultivados pelas sorridentes senhoras de bairro. 

E eu penso que alguns tentam frear o presente em nome de uma poesia pálida, fraca,

De uma nostalgia que não dá frutos e não tem perfume;

Os livros velhos e bem organizados que ninguém nunca mais lerá fazem isso,

O vento empoeirado faz isso,

Os poetas fazem isso,

As novas canções que já se tomaram velhas canções fazem isso,

Eu faço isso. 

Porque parece ser mais precioso algo de belo vivido do que a expectativa de dias mais luminosos que tardam a se anunciarem.

Como poderia ser diferente? 

E vamos ficando velhos sem crescer,

Ainda pequenas crianças melindrosas só querendo um dia de sol para brincar lá fora.