13 de jul. de 2021

13/07/2021

 


Com as saudades todas gastas, não resta dor adocicada por aqueles dias em que se vagava pelos corredores declamando poesias profundamente sem sentido para amores ainda mais efêmeros.
Contudo, mesmo depois dos tempos das dores dóceis, o córrego raso de versos atravessa a tarde sem ambição, como tanto já fez, refrescando a alma. 
E parecem-me quase santas as pessoas que vagam nas ruas, sem pressa a algum destino confortável,
Parecem-me sagradas as crianças pelas calçadas antes do fim do dia,
Parecem-me dádivas os jardins com roseiras exuberantes nas casas de esquina. 
E é por isso, 
E pelo vento morno que que carrega algum perfume, e pelas vozes confusas não muito longe, e por uma canção antiga e ruim que não para de tocar, 
Que não posso deixar de insistir. 
Benditas essas palavras sem sabor, essas páginas não lidas, não amadas, o coração não disparado, a calmaria não clandestina.
Bendito esse pouco, 
Bendita essa ausência preenchida pelo lume fraco da fé.
A fé que bruxuleia feito a chama de uma vela posta na janela,
Mas que não se apaga, não se apaga. 
Tudo isso, eu sei, é libertação,
O reflexo puro no espelho,
A poesia bonita oculta em mais um poema horrível,
Como uma gema rara presa por entre rochas sem qualquer formosura.
Tudo isso, esse trivial,
Esse quase menos que nada,
É também tanta vida.