7 de fev. de 2021

04/02/21


 O olhar que se perde no horizonte na verdade é a janela para o espírito que garimpa e lapida sentimentos passados e remotos, na vã tentativa de lhes dar algum brilho e propósito.

Há algo de saudade nisso, mas quando em completa solidão a memória se arrisca a andar por ruas distantes demais, tudo está envolvido em uma penumbra acinzentada e sem vida.
As portas estão abertas e uma presença forte persiste em todos os cômodos da frágil fortaleza onde repousei por breve trégua. Porém, o que impera pelos cantos é apenas o vazio.
Não há calor, não há luz.
Mas de todo aquele ano o que ainda tira um quase sorriso foi o abraço roubado, os pés centímetros acima do chão, o perfume. Um instante efêmero, mas que tinha a maciez do que poderia ter sido o amor.
Tudo tão real e sólido antes do vento insípido da noite tudo dissolver e carregar.
E já entardece... e não há tanta beleza no céu. Daqui vejo as torres e os prédios banhados em uma claridade melancólica e cansada, e imagino todas as pessoas e seus universos particulares, também lutando para entender e dar algum sentido e beleza aos dias que passam cada vez mais estranhos.
E não há muito a ser dito...
Mesmo que em mim também nada seja completamente extinto ou esquecido, é preciso aprender a dizer adeus.