7 de fev. de 2021

01/02/21




Não há mais juventude suficiente para que as palavras sejam um socorro. 

Todos os velhos cadernos preenchidos com letras tortas de paixão e sonho repousam no fundo do armário em um silêncio perpétuo; orações nunca ouvidas, esquecidas em um altar abandonado.

Mas quando o medo não é grande o suficiente para as mãos esconderem a face em um ato de delicado desespero, algumas linhas brotam sem pretensão por entre as últimas horas mágicas do dia, e por um momento eu não preciso me culpar por não saber mais pelo que lutar.

E essas palavras são como pequenos pássaros de canto bonito que sobrevoam um pouco do mundo ao redor e me contam das belezas do céu. Assim, o peito se envolve de uma luz humilde e quase morna feito um lar... fragmentos de liberdade penetram no espírito.

Sei que já é outro fevereiro e tudo está ainda mais tremendamente esquisito do que antes, como diria a poetisa.
Sei que não haverá um galho partido no ipê a florir, os salgueiros não dançarão ao vento das tempestades sem seus galhos chorosos, uma estranha saudade insistirá por alguns longos instantes em mandar lembranças e todos parecerão estar muito distantes de mim, cruzando alguma linha de chegada enquanto eu ainda não consegui calçar os sapatos, como sempre. Ainda assim... uma canção bonita insiste em tocar ao fundo, sem cessar, pedindo que eu sorria novamente, quase como quando havia esperança.