3 de jul. de 2017

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Olhe, você está tentando de novo escrever um novo conto de fadas nas costas da lápide onde foi enterrado o último final feliz.
É tão difícil entender que uma corrente não se parte adicionando mais elos a ela?
O mundo não está tremendamente esquisito, ou tremendamente insano, ou tremendamente perdido. Ele é. Então apenas pare de seguir o fluxo.
Não tente matar sua sede e sua fome com areia e veneno.
Não cairão sobre sua cabeça rosas brancas de luz. Deus, era só uma alegoria!
A teoria é sempre mais bonita, e mais insossa.
Mas alguma coisa ficou de tudo isso, não ficou?
 É inverno. Os ipês explodem mais cores neste ano do que em qualquer outro; e já se foram três anos... Eu sei que você não parou de contar.
É um bom tempo já, certo? É tempo suficiente.
Sem mais passagens de ida e volta compradas com antecedência. A beleza dos seus olhos está na verdade que eles começam a ver desnublados.
Algumas coisas são perenes: as lágrimas ao ser entoada a Ave Maria, a pequena e morna afeição que fica suspensa no ar por mais alguns instantes ao partir a mais recente ilusão.
O coração não é assim um animal tão mutante. Ainda bem.
Qual o próximo passo, não faço ideia. Apenas tente não quebrar as promessas ou a cara por um tempo, deve bastar.
Foi bonitinha, mas um tanto ingênua, a fantasia em que tentou esconder a esperança. "As mãos sempre entregam." Lembra?
É tarde, preciso desligar. Eu sei, eu sei. Você não entendeu nada.
Não era para entender.
Não faria diferença.
Boa noite.