23 de ago. de 2025

Volitar



Lembro-me de um tempo 

Em que nos sonhos se podia voar 

Como eternas crianças perdidas

Soltas no ar 

Agora, às vezes,

Algumas raras vezes 

O coração fica leve o bastante 

Para que em madrugadas brilhantes 

Os pés volitem alguns metros acima do chão 

Como se fosse possível de novo 

Plainar por um firmamento de inocência 

Embora diferente de antes 

Agora rondem o medo, as horas, os despertadores 

Uma plateia displicente 

E nenhuma promessa do amor 

Mas há alguma magia 

Sutil 

Quase imperceptível 

Que escorre das rachaduras que se abrem 

A cada golpe violento da vida

E isso ainda faz os olhos marejarem 

Como se a realidade não doesse tanto 

E a esperança aguardasse ansiosa 

Por seu desabrochar miraculoso 

Na primavera que se aproxima. 


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