22 de ago. de 2025

Sempre há um agosto

 

Sempre há um agosto 

Em que 

Diferente de outros agostos 

O vento quase não sopra 

E ainda faz bastante frio 

E tudo parece como que preso em uma fotografia começando a desbotar

Sempre há um agosto 

Em que daquele velho cemitério 

Eu sinto chegar até mim um perfume que deveria ser esquecido 

Eu ouço se aproximar uma canção que não deveria mais ser ouvida 

Não é um cemitério comum 

As flores de mirra desabrocham ao sol de fim de inverno 

Hibiscos e primaveras explodem em cores tamanhas 

Inundando os olhos de uma beleza comum e mágica 

Nada parece lembrar que algo valioso repousa aqui 

Abaixo dessas terras 

Em uma única sepultura 

Adormecem os sentimentos mais nobres já sentidos 

O Sonho, o Delírio, o Desespero, a Esperança, 

O Amor. 

E este mausoléu feito de uma pura safira azul 

Como que se ilumina ao me ver chegar novamente 

Depois de tanto tempo.

E aqui me encontro  

Em resignação e calmaria 

Observando de muito longe o tamanho imenso das asas daquilo que já foi tão amado 

Refletindo a claridade de um céu sem nuvens

Enquanto as raízes dos meus pés se aprofundam cada vez mais no solo escuro. 

O sol se põe...

Peço então que adormeça  

Tudo o que foi despertado 

E levo comigo apenas

De mãos dadas 

Uma agora pacífica Saudade

Que sorri discretamente 

E que sei que nunca irá me deixar.

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