Sempre há um agosto
Em que
Diferente de outros agostos
O vento quase não sopra
E ainda faz bastante frio
E tudo parece como que preso em uma fotografia começando a desbotar
Sempre há um agosto
Em que daquele velho cemitério
Eu sinto chegar até mim um perfume que deveria ser esquecido
Eu ouço se aproximar uma canção que não deveria mais ser ouvida
Não é um cemitério comum
As flores de mirra desabrocham ao sol de fim de inverno
Hibiscos e primaveras explodem em cores tamanhas
Inundando os olhos de uma beleza comum e mágica
Nada parece lembrar que algo valioso repousa aqui
Abaixo dessas terras
Em uma única sepultura
Adormecem os sentimentos mais nobres já sentidos
O Sonho, o Delírio, o Desespero, a Esperança,
O Amor.
E este mausoléu feito de uma pura safira azul
Como que se ilumina ao me ver chegar novamente
Depois de tanto tempo.
E aqui me encontro
Em resignação e calmaria
Observando de muito longe o tamanho imenso das asas daquilo que já foi tão amado
Refletindo a claridade de um céu sem nuvens
Enquanto as raízes dos meus pés se aprofundam cada vez mais no solo escuro.
O sol se põe...
Peço então que adormeça
Tudo o que foi despertado
E levo comigo apenas
De mãos dadas
Uma agora pacífica Saudade
Que sorri discretamente
E que sei que nunca irá me deixar.
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