11 de dez. de 2022



 Uma imensa sala escura 

E um pobre acendedor de velas 

Com fósforos nas mãos

De passos arrastados 

Cansados 

As acendendo 

Uma 

Depois outra

E mais outra 

E a escuridão maciça

Por vezes tangível até 

Quase não se acanha 

Mas cede

Pouco a pouco 

Ao esforço tolo e persistente 

Do velho homem 

Então que

Como em quase todas noites 

Algo

Alguém

Qualquer coisa das sombras 

Abre as janelas 

E penetram as mornas e violentas 

Rajadas de vento que precedem as tempestades 

Todas as suas velas se apagam 

E o homem teme o breu

O silêncio com seu assovio cortante 

A espera que nunca se finda

Uma lágrima escorre do canto esquerdo 

Seus olhos se fecham 

Um suspiro profundo 

É preciso então 

De novo e mais uma vez 

Reacender suas velas 

Afugentar a noite 

Proteger-se das trevas

Toma assim seus fósforos e caminha até a janela

É preciso que seja trancada com mais força dessa vez 

Seus fósforos estão no fim

Suas forças quase extintas

Mas antes...

Antes lança um olhar ao céu 

E então outras lágrimas escorrem

Agora do canto direito da sua face 

E entende 

Só com todas as luzes apagadas

Só com as janelas abertas

É possível ver como brilham as estrelas.