16 de jun. de 2022

 


Nada, sequer uma fotografia...

Qualquer imagem.

O som da voz perdeu-se também,

Dissolvido por entre milhares de ruídos,

Ruídos emitidos pelas promessas partidas,

Quebradas, em cacos, ferindo-se entre si,

Afiadas pelo passar das horas,

Dos dias, dos meses, dos anos.

E eu, como um fantasma faminto, consumindo

Cada boa memória, 

Cada mínimo fragmento.

Dissolvendo tudo o que foi vivido em palavras fracas, frágeis, empobrecidas,

Retorcendo a minha alma com cada vez mais força,

Em busca do resto de alguma vida,

Em busca do resto de alguma nobreza. 

Então, o gotejar amargo de mais algum sentimento que repousava como um lago intocável surgia...

Mais algumas linhas ilegíveis,

Mais algum canto por todos inaudível.

Mas no mesmo sonho assombrado

Onde você destruía toda minha fortaleza,

Apenas por existir,

Onde você vagava displicente 

Por meus tantos vazios,

No mesmo sonho repleto de um profundo adeus,

Um abraço morno...

Um sorriso brando...

A luz do sol nascente escorrendo das janelas,

Inundando a cama, os lençóis. 

Um nome já esquecido,

Eu, digno do amor outra vez,

Talvez,

Ainda mais, até.