4 de jun. de 2022

 


Eram e talvez, 

Em alguns momentos inocentes,

Ainda sejam

As palavras

Os raios luminosos a derreter

A gélida e grossa

Camada de realidade

Que cobre a superfície 

Acima de mim.

Eram e talvez ainda sejam elas,

Apenas elas,

A desnudar a doçura de alguma canção 

Por entre as noites em que o silêncio,

Falso e estranho,

Corta lentamente a pele da lucidez.

São elas, ainda, talvez,

A adornar de memórias preciosas,

Não vividas,

A envolver de aromas raros,

Imaginados,

Alguma ilusão sutil que suavemente sorri

Enquanto vaga vagarosamente

Por essas ruas que já foram tão minhas.

São elas, eu sei, 

Unicamente elas,

A persistir e ficar

Junto de mim,

Das minhas mãos,

Removendo pedras,

Plantando roseiras,

Como disse a mestra.

São elas, eu sinto, que renascerão,

Ainda que menos vivas, 

Ainda que mais esquecíveis,

Enquanto algo de Belo sobreviver no coração.