12 de nov. de 2021

Doce menina que vendia doces

 


Com o brilho dos olhos quase totalmente oculto pelas sombras da noite e o pelo peso dos dias, a tão graciosa donzela abordava por entre as luzes dos semáforos quem lhe compraria as últimas prendas para que pudesse descer as ruas indiferentes em busca de tirar o fardo das longas horas de trabalho dos ombros.

Eu ali, tão pequeno diante de tamanha bela força, emocionado sem me deixar perceber, pensava em como a poesia às vezes se mistura tão bem com a vida, que se torna seu próprio sabor. Um sabor às vezes doce, como aqueles que a gentil menina vendia. 

E após seu agradecimento pelo tão pouco de mim oferecido, eu que imensamente agradeci, por seu sorriso que imagino ser tão sincero, por sua alma que sinto ser, apesar de tudo, tão bonita.

Enquanto então eu também vagava pelas mesmas ruas indiferente, em busca de também dos meus ombros o peso das longas horas tirar, eu olhava para o céu com silenciosos relâmpagos no horizonte imaginando que Deus sem dúvida é Poeta. O primeiro e o maior deles. Porque só isso explica como é possível extrair do acaso fragmentos de milagres tão lindamente esculpidos para adornar com algum encanto estes tempos inexplicáveis.