10 de nov. de 2012

O Deus interior


Quando se faz necessário o voo, não há tempestade amedrontadora o bastante.
Foi assim, em mais um sonho confuso, em mais uma noite de sons estranhos sobre minha cabeça.
Como disse certa vez meu amor: ‘tudo que está ao redor você absorve para si.’

Sim, chovia; ainda chove. Por isso o céu tão negro em meus sonhos.
Chove, e como sempre, ao notar a água caindo dócil, ao sentir minhas meias molhadas dentro do sapato igualmente molhado, ao sentir o perfume das flores amarelas que brotam em longos cachos naquela rua antiga, também molhada, eu sinto o coração em chamas. 

Eu sinto um chamado vindo não sei de que parte, não sei de quem.

Sim, se eu olho ao redor não faltam sinais. 
Há a luz do sol que deixa as folhas das árvores verde-esmeralda, os pássaros em sua rotina de liberdade, as pequenas borboletas embelezando os ares.
Se eu olho ao redor, eu vejo as crianças correndo e rindo despreocupadas, o que me faz recordar a minha criança que persiste viva, também correndo e rindo despreocupada.
Porém, desta vez, não é externo, é de dentro que essa voz vem. Eu sei.
São de dentro para fora que vêm brotando esses milagres.
E embora eu há muito tenha desistido de dar qualquer definição a Deus, eu sei que é uma parde dele aqui dentro.
É minha ligação sutil e vital com ele que me conecta às coisas que ele criou.

Nesses momentos meus olhos mergulham em minha alma que escorre.
Eu me esqueço do que é mesquinho, egoísta, pequeno, em mim e no mundo ao redor; eu olho por cima, eu subo às alturas, como que convidado pelos anjos, e por um ínfimo e magnífico instante vislumbro o semblante do Divino Mestre.
E ele me sorri.