22 de fev. de 2025

Memórias e consequências

 


Passados tantos, tantos anos 

Eu começo a questionar se aquele sentimento 

Que era tão grande

Que era quase maior que tudo 

Realmente existiu 

Já que agora restam apenas lembranças e consequências 


Nenhuma prova da existência da imensa luz 

Que irá se apagar por completo 

Pouco a pouco 

Junto da extinção da minha memória 

Que lentamente vai me deixando 

Apenas com alguns pequenos estilhaços de encanto 


Nunca

Ninguém mais atravessou aquela mesma porta

E eu me perdi e precisei me encontrar 

De mais formas do que posso contar 

E as cicatrizes que só eu vejo 

Já quase me impedem de reconhecer meu reflexo 


Então eu sangrei ao falar sobre o profano invadindo o sagrado 

Então eu orei para anjos de nome desconhecido 

E eu tentei, tentei 

Até ser julgado por tentar demais 

E eu desisti, desisti 

Até ser acusado por ter desistido.

 

11 de fev. de 2025

Meu coração ainda bate

 



Versos ancestrais pairam displicentes...

'E havia você...

E por haver você é que havia o céu e a claridade das estrelas. 

Sorríamos ao firmamento, 

Lado a lado, 

Como se a realidade fosse o pesadelo 

E ali é que estivéssemos acordados.'

Nada foi maior desde então

Maior que aquele céu 

Que aquele sonho 

Não que nenhuma outra beleza tenha despontado no mundo

Ainda ontem o coração acelerado 

As pernas bambas 

Doces fragmentos de outras memórias 

E a lembrança da pergunta

"Me diga, você conseguiu amar outra vez?"

Sim, eu disse, é claro 

Mentindo 

Mas também falando a verdade 

Porque amei 

As palavras que não foram contaminadas 

As canções que nunca silenciam 

O jardim da alma que sobrevive à estiagem 

Que não tem previsão de fim

E essa fagulha de fé 

Que quando está prestes a se apagar

Renasce 

Talvez não deslumbrante como uma fênix 

Mas ainda bela

Feito um colibri 

'Meu coração ainda bate...'

Eu deveria ter respondido 

Seria o suficiente 

Porque para algumas questões 

Não existem respostas óbvias 

Meu coração ainda bate...

Por isso ontem doeu 

Por isso hoje eu choro 

Por isso amanhã voltarei a sorrir. 

2 de fev. de 2025

Levitar




Ainda que muito pouco 

Reles centímetros apenas

Nos sonhos é possível levitar 

E os monstros famintos 

Emaranhados com a noite escura

Já não nos alcançam 

Embora estejamos cansados de lutar 


Enquanto na realidade 

É domingo 

E paira um silêncio quase imaculado

Que por instantes 

Cessa os estrondos incessantes da mente 


Então chove 

E eu me lembro de quando as chuvas acalmaram as batalhas 

Lavava o sangue dos campos 

Fazia embainhar-se as espadas 


Então chove 

E as águas levam lentamente 

As últimas luzes do dia 

E as águas lavam delicadamente 

Dores, medos e memórias 

Que nunca fazem a bondade de partir.