25 de jan. de 2025

Fio de esperança



 Às vezes após as tempestades 

O ar se preenche de um perfume peculiar 

Igual ao que pairava 

Aos arredores daqueles velhos parques de diversões da infância 

E por um micro espaço de tempo 

Abrem-se as portas e janelas desse quarto sufocante 

Em que a realidade nos aprisiona 

As palavras então deslizam rua abaixo 

Como as águas purificantes 

Palavras não observadas 

Ignoradas 

Mas ainda quase belas 

Como as dos leves dias de outrora 

Sei que como os relâmpagos distantes 

A vida promete estações mais cruéis que esta 

E eu me vejo lá sem outra mão 

Sem outro sorriso

E dói 

Mas hoje há essa atmosfera limpa 

Uma canção bonita sobre saudade

Um último fio de esperança 

Sustentado pelos sonhos infantis 

Que ainda resistem.

Feito teu coração

 


Talvez as lágrimas dos cantos de teus olhos 

Não sejam assim tão tuas

Como os relâmpagos distantes 

Sejam sussurros de uma atmosfera alheia 

Que apenas roga pelos teus sentidos que ainda resistem 

Talvez um dia 

Nos reflexos que tanto busca 

Veja mais do que medo e passado 

Ao invés disso 

Olhando através das janelas e alpendres 

Veja futuro e esperança 

E entenderá que às vezes é preciso deixar ir

Às vezes é preciso desistir de algumas flores 

Para que o jardim fique mais bonito 

Então veja lá fora 

O céu de infinita escuridão 

Continua pontilhado de estrelas 

Feito teu coração.

19 de jan. de 2025

Você pode



Se eu pudesse

Eu traria de volta aquelas palavras 

Que eram como gotas de cura 

Ou traria o silêncio 

Que mesmo sendo frio e dolorido 

Era belo e puro como um diamante 


Se eu pudesse 

Eu mesmo seguraria sua mão

Através dos dias sem fim

E ela nunca mais tatearia na escuridão 

Buscando a porta de um abrigo 

Que nunca existiu 


Se eu pudesse 

Eu perdoaria seus pecados 

E te ajudaria a semear sonhos

Ao invés de culpas 

Te ajudaria a ser forte

Ao invés de pedir socorro


Se eu pudesse 

Eu te amaria mais

Para que esse amor bastasse 

Para que a falta de nenhum outro amor doesse

Para que você sentisse que na verdade 

Tudo isso, você pode.

12 de jan. de 2025

Te tola e bela forma

 

De tola e bela forma

Vejo-te tentar construir novos sonhos 

Sobre escombros pontiagudos 

Que nunca se dissolvem

Que nunca desaparecem 

Quase feito uma criança 

Que se esqueceu de perder a esperança ao crescer 

O espírito diz então que ainda é cedo 

Enquanto a mente diz que já é muito tarde 

E você apenas tenta fugir da guerra ininterrupta 

Entre a fé e o medo 

Tentando se refugiar em memórias etéreas 

Em promessas que não se cumprirão...

2 de jan. de 2025

Uma versão sua



Existia uma versão sua 

Que sabia tão bem sorrir e amar 

Ainda que com dentes tortos

Ainda que com amores ilusórios 

Uma versão sua 

Que sabia tão bem 

Dançar e cantar 

Ainda que errando os passos

Ainda que desafinando o tom

Uma versão sua que já quase não se mostra 

Que quase não existe

Mas que em algumas tardes

Quando a luz do sol incide sobre os escombros de tempo 

Que foram se acumulando cruelmente sobre você 

Essa sua parte brilha lá no fundo 

Entoa uma canção sobre estrelas e heróis 

Ensaia alguns movimentos tímidos 

Arrisca mais alguns versos

E diz com uma voz tímida 

Que sim

Talvez os escombros já sejam pesados demais para serem removidos 

Talvez muita coisa não consiga mais ser curada 

Porém 

Uma nova versão pode enfim nascer 

Ainda maior e mais forte

Uma versão sua que o tempo não irá soterrar 

Uma versão sua que sabe

Que a luz no fim do túnel 

É você mesmo.

1 de jan. de 2025

É preciso

 

A cidade ainda dorme 
De certa forma
Um sono justo 
Como os advindos 
Do após de grandes batalhas 

A cantoria dos pássaros é amena
Ecos solitários de uma alegria fugaz 
Delicados como pequenas orações confusas 
As nuvens movem-se em calmaria 
Ocultando aos poucos a luz clemente 

É preciso que se fale sobre a esperança 
Sobre a paz
É preciso que se fale sobre reconstruir o que foi quebrado 
É preciso que se chore rápido pelo que partiu 
Para que se sorria para o que vai chegar 

É preciso que se agradeça 
Que se louve 
Que se abrace 
Não é preciso muito...
É preciso que se ame.