21 de set. de 2021

Ruas de Domingo



Talvez muito mais que em outras vezes, ter esse livro em mãos me causou um turbilhão de sensações. O que eu tinha entre os dedos era um espelho para a alma, e nesse reflexo eu vejo nuances das tantas quedas e renascimentos que permearam os infindáveis meses de quarentena. Eu vejo os inumeráveis momentos de autocondenação e autocompaixão, de medo e alívio, momentos escurecidos como esse céu da capa, e momentos luminosos como nos velhos domingos da infância. 

Nesse reflexo eu vejo um ser humano, repleto de toda beleza e miséria que lhe é característica.

E passados cerca de onze desde que eu achei que deveria pôr em páginas o que eu sentia diante de mim e diante do mundo, eu ainda sinto que estou na minha primeira linha, no primeiro verso para o primeiro amor ou para o primeiro temor. E é difícil saber o que resta daquele menino que se refugiava em fantasias, aquele menino que não sabia o que era pecado e que todas noites conseguia levantar voo em seus sonhos. Mas talvez seja aquele menino a cultivar as flores e se encantar com elas, talvez seja aquele menino a me perdoar todas as vezes que eu tropeço e caio. Talvez seja aquele menino a cuidar do homem que continua a procurar seu caminho.